sexta-feira, julho 31, 2009



O cair das pálpebras coincidiu com o segundo no qual o sol adormecera. Quando seus olhos se abriram, não havia sobrado uma única gota laranja no céu. Logo logo seus pés estariam inchados, seus olhos menores, sua face mais flácida. Seu passado debruçou-se até aquele momento sobre a montanha, atrás dela um grupo de pessoas acendia uma fogueira, outro ria, um terceiro abria a garrafa. Cada uma daquelas pessoas desapareceria no futuro. Cada uma embarcaria em seu próprio vento enquanto sua própria brisa a carregaria.

Olhou para as pessoas. Uma a uma se casariam, dissolver-se-iam em seus próprios meios, partiriam ao surgir de novos conhecidos... Não iria se casar, não era do seu gênio. Não seria boazinha o bastante para ter um milhão de amigos, não choraria mil vezes por amor, desataria com o tempo os poucos laços que a envolvia.

Seus olhos voltaram a se fechar, uma piscadela durante a qual soou a partitura de toda sua vida. Não pôde mais pensar. Havia uma garrafa sendo aberta. Sua boca já estava seca.


segunda-feira, julho 06, 2009



Velha Senhora ao descobrir o mar.
Ou
Velha Mar

Os olhos repletos de lembranças perdem-se no encontro do azul com o branco. Aquela paisagem cantada finalmente era vivida. As mãos enrugadas tocam a espuma. Já fora uma vida inteira, tudo desaguando ali...



Nem era tão grandioso, mas podia morrer em paz