domingo, dezembro 20, 2009

A Chaleira Solitária



A casa espera, ao som do relógio, um fantasma que se chegar sorverá o chá que deixara ferver.

segunda-feira, dezembro 07, 2009




Trêmulo, o primeiro homem esgueirou-se do útero até a superfície. Mal chegou e foi acolhido pelas estrelas que embalaram e acalentaram seu sono. Desde os primórdios, contaram-lhe histórias de pessoas como ele, mas que ainda não tinham nascido, estas viriam a ser do seu sangue, da sua glória se ele ousasse ser valente.



As constelações presentearam-no com as formas, a partir de seus brilhos, o sonho se formou e do sonho nasceu o mundo. No mundo o homem construiu seu reino. Em seus jardins e sacadas, Adão ouvia as histórias dos astros e acabava adormecendo nos braços do firmamento. Quando finalmente sentiu-se solitário, o céu comovido choveu. Da chuva surgiu um espelho d’água , onde, pela primeira vez contemplou seu rosto - viu as estrelas no chão. Viu uma estrela que não era estrela e viu seu próprio contorno tomar forma e tal como ele saíra do útero, do seu delírio saiu a primeira mulher. Conheceram-se de imediato. Diáfana na água o convidou a um passeio sob as nuvens e na dança dos seus corpos erigiram um mundo. Um mundo de estrelas mudas, onde toda a voz do firmamento se fazia carne e se renovava na solidão do homem que se esgueirava do útero, no encontro consigo mesmo, no silêncio das estrelas, na forma dos seus olhos, na forma da mulher.