
Trêmulo, o primeiro homem esgueirou-se do útero até a superfície. Mal chegou e foi acolhido pelas estrelas que embalaram e acalentaram seu sono. Desde os primórdios, contaram-lhe histórias de pessoas como ele, mas que ainda não tinham nascido, estas viriam a ser do seu sangue, da sua glória se ele ousasse ser valente.
As constelações presentearam-no com as formas, a partir de seus brilhos, o sonho se formou e do sonho nasceu o mundo. No mundo o homem construiu seu reino. Em seus jardins e sacadas, Adão ouvia as histórias dos astros e acabava adormecendo nos braços do firmamento. Quando finalmente sentiu-se solitário, o céu comovido choveu. Da chuva surgiu um espelho d’água , onde, pela primeira vez contemplou seu rosto - viu as estrelas no chão. Viu uma estrela que não era estrela e viu seu próprio contorno tomar forma e tal como ele saíra do útero, do seu delírio saiu a primeira mulher. Conheceram-se de imediato. Diáfana na água o convidou a um passeio sob as nuvens e na dança dos seus corpos erigiram um mundo. Um mundo de estrelas mudas, onde toda a voz do firmamento se fazia carne e se renovava na solidão do homem que se esgueirava do útero, no encontro consigo mesmo, no silêncio das estrelas, na forma dos seus olhos, na forma da mulher.
8 comentários:
Genial! A-mei!
:)
O ser andrógino contemplando a genesis do mundo em sua forma unica e original. Belissimo!
De forma encantadora e delicada
de falar de um assunto...
Vou caminhar mais
por seu blog...e me encantar mais.
Vou amar que passe no meu...
Bjins entre sonhos e delírios
Uma verdadeira Pleiade de sentidos!
Falar o quê?
Realmente, admirável.
rico, bem rico.
e muito preso.
nascer é dor, explodir os pulmões do primeiro ar estrangeiro.
cinematográfico demais!
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