quarta-feira, outubro 21, 2009

Eulália

No seu sonho de menina, Eulália observou os primos chegarem à fazenda. Era dia de festa e teria companhia de crianças. Já sentia se aproximarem as brincadeiras nas árvores, as travessuras de mato, os joelhos ralados... Ansiosa mal conseguia esperar sua mãe acabar de vesti-la com seu vestido de festa, a mãe o fazia com esperança de limpeza impecável, ela só pensava em barro e rio. Se apertasse os ouvidos percebia os sapos coaxarem já chamando pelos meninos. Nessa altura os tios na mata já deviam ter encontrado a janta, os tachos de cobre na cozinha liberavam vapores adocicados, os velhos já carregavam as sanfonas e violas; no terreiro as comadres se cumprimentavam...

De sua jornada ao passado acordou radiante: suas pernas não doíam tanto quanto antes, podia até esticar seus ombros que, se eram curvados pela natureza, nesse momento pareciam mais eretos. Todas as rugas fugiram do espelho, seria até capaz de andar, seria... Olhou mais uma vez seu reflexo e riu, lembrou dos cheiros, do barro e acabou não se contendo. Com todo carinho confidenciou à enfermeira da tarde: Viver ainda vale a pena.

4 comentários:

lisa disse...

Lembrança é a possibilidade de viajarmos no tempo. Talvez a única, provavel.

beijos

Flora Ramos disse...

Viver pra lembrar? bonito. mas eu prefiro morrer.

to em outro endereço..
www.aos-farrapos.blogspot.com

beijo!

camila colombo. disse...

bonito marcos, bonito...

Jamila Zgiet disse...

ounnnnnn!!!!
vida é o que há!